Hora de parar e refletir


Costumo ter memória curta e na maioria das vezes esqueço coisas como: Nomes, lugares, pessoas, números, endereços e até a data do meu nascimento. Porém só há uma coisa que me faz voltar algumas lembranças e hoje é o meu referencial de memória, e essa coisa se chama musica. É incrível que quando ouço uma determinada canção sempre vêm memórias do meu passado não tão distante. É como se ela me ligasse ao tempo, me trouxesse de volta aquilo que eu não tenho capacidade para recordar. Na maioria dos dias acordo com alguma musica em mente e normalmente isso é o meu termômetro do dia, dias animados ou tristes, isso depende da musica que estava presente no meu despertar. E hoje resolvi me refugiar na casa de uma família aqui da capital de Mato Grosso e logo ao despertar ouvi pelo rádio da casa musicas que minha mãe costumava ouvir na minha adolescência, e isso me trouxe algumas memórias incríveis, lembranças que eu não sabia que havia vivido aqueles momentos. Porém fiquei quieto e comecei a analisar o dia dessa família comum que mora em um lugar simples, porém bom o suficiente para se ter conforto. E pouco a pouco fui percebendo que a simplicidade aliada a companhia de algumas pessoas queridas transforma o ambiente, é como se bastasse somente o básico para ser feliz. Brincadeiras, sorrisos, almoçar todos juntos, coisas que para mim até pouco tempo atrás eram banais. E hoje começo a repensar a minha caminhada, pois sempre tive vontade de ir para um grande centro, arrumar um emprego, estudar e viver sozinho. O individualismo sempre falou mais alto desde os meus 12 anos quando comecei a caminhar sozinho e distanciar de grupos, sempre segui aquela regra de que bastasse somente a minha felicidade e o resto que se exploda. E o tempo foi passando e não nego que por diversas vezes reclamei da minha cidade natal, e quem é meu amigo sabe disso, chamei de atrasada, povo metido e coisas do gênero. Sempre valorizava o que vinha da capital e em linguagem mais informal digo que “pagava pau” para Goiânia, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre. E por fim, aos 17 anos com a cabeça cheia de porcarias e um orgulho a se preservar, fiz o meu primeiro vestibular. Aquilo era a minha carta de despedida de tudo aquilo que eu achava ruim e não hesitei ao sair de casa. Enquanto todos choravam a minha despedida eu sorria dentro do ônibus dando adeus a tudo aquilo que eu julgava ser atrasado para mim. E logo consegui realizar o meu sonho, em menos de dois anos morei em duas capitais e nesse passar de tempo fui percebendo que a minha correria aliada a ganância crescente me fez uma pessoa fria, seca e acima de tudo falsa. Tudo caminhando no sentido contrário do que eu era ao sair do interior, uma pessoa simples. Aos poucos fui afunilando as amizades e dificultando a entrada de novas pessoas em minha vida, ou seja, fazendo tudo aquilo que eu condenava quando tinha 15 anos. Mudei, briguei, brinquei, diverti, sorri, chorei, por diversas vezes agi friamente, jurei amor a quem eu não amava, brinquei com sentimentos alheios. E o tempo foi passando, e nesses últimos 15 dias quando dei um tempo na correria e fui para a minha cidade natal comecei a fazer uma análise do que eu havia vivido nos últimos dois anos e percebi que tudo estava errado. Isolei-me por dois dias no meu velho quarto, aquele que eu cresci e comecei a ouvir musicas da minha adolescência. Cada uma me trazia uma lembrança de algum momento, de algo ou alguém. Passei por todos os ex amigos, ex namoradas, teres na pracinha, culto na igreja matriz, trabalho voluntário no Leo clube. Até que terminei na minha infância que foi quando eu dei conta que eu havia mudado muito e que estava na hora de frear tudo isso. Após esses dias comecei a atentar aos pequenos detalhes e foi nesse momento que percebi que minha família a cada vez que me leva na rodoviária sofre um “ataque”, é como se fosse a ultima vez que me veriam. Percebi o carinho dos meus gatinhos, que os pássaros cantam todos os dias na árvore ao lado do meu quarto, que a tia do supermercado sempre me espera para comprar a coca cola do almoço, que tudo é tão simples, porém muito significativo. Comecei a repensar os meus caminhos e foi nesse momento que voltei para a capital de Mato Grosso, aqui comecei a observar a ganância nos olhos de alguns, a correria no fim havia voltado. Fiquei perdido nos quatro primeiros dias e resolvi por fim procurar um lugar mais simples para ir e resolvi vir a casa dessa família, aqui vi as coisas que há muito tempo eu desprezei. A ouvir a primeira musica do dia que me trouxe lembranças da infância me fez pensar que a sociedade a qual estou inserido e a qual eu dedico meu tempo não irá me dar uma recompensa, e que o dinheiro é bom quando se tem felicidade. Por isso pensei que está na hora de começar a valorizar alguns momentos, por mais que eles pareçam insignificantes. Nesse momento penso, de que adianta correr tão cegamente atrás de um futuro sendo que isso não me faz viver o presente e me transforma em uma pessoa horrível? Vou dar uma freada e curtir mais a vida, as pessoas e minha casa. Balada? Depende, prefiro mais um jantar em algum lugar mais calmo, ver um filme talvez? Não me arrependo do que fiz até hoje e creio que a vida dá voltas para que nelas nós possamos aprender mais e mais. De que adiantaria nascer sabendo tudo? Os obstáculos estão ai para serem superados, e exigir de mais de si mesmo é bobagem! A vida mais simples é a mais feliz e hoje eu vejo isso.  

Notion Postagem por Jefferson Belizário  

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